quarta-feira, 7 de outubro de 2015

"ENTRE SEM BATER" A história de Apparício Torelly o Barão de Itararé

   Apparício Fernando de Brinkerhoff Torely nasceu no Rio Grande do Sul, em 1895.
Em 1925 foi para o Rio de Janeiro trabalhar nos jornais "O Globo" e "A Manhã". Já em 1926, fundou o jornal "A Manha", em formato tablóide, que serviu de inspiração para jornalistas e humoristas criarem, 40 anos mais tarde o jornal "O Pasquim", com os mesmos propósitos de humor crítico.  

Durante a Revolução de 1930, quando Getúlio Vargas partiu de trem rumo à capital federal, então o Rio de Janeiro, propagou-se pela imprensa que haveria uma batalha sangrenta em Itararé. Isto, foi vastamente divulgado na imprensa.  
  Apporelly não ficou de fora desta tendência. Esta batalha ocorreria entre as tropas fiéis a Washington Luis e as da Aliança Liberal que, sob o comando de Getúlio Vargas, vinham do Rio Grande do Sul em direção ao Rio de Janeiro para tomar o poder. A cidade de Itararé fica na divisa de São Paulo com o Paraná, mas antes que houvesse a batalha "mais sangrenta da América do Sul", fizeram acordos. Uma junta governativa assumia o poder no Rio de Janeiro e não aconteceu nenhum conflito. O Barão de Itararé comentaria este fato mais tarde da seguinte maneira:

"Fizeram acordos. O Bergamini pulou em cima da prefeitura do Rio, outro companheiro que nem revolucionário era ficou com os Correios e Telégrafos, outros patriotas menores foram exercer o seu patriotismo a tantos por mês em cargos de mando e desmando… e eu fiquei chupando o dedo. Foi então que resolvi conceder a mim mesmo uma carta de nobreza. Se eu fosse esperar que alguém me reconhecesse o mérito, não arranjava nada. Então passei a Barão de Itararé, em homenagem à batalha que não houve."

Na verdade, em outubro de 1930, Apparício se autodeclarara Duque nas páginas de A Manha:


"O Brasil é muito grande para tão poucos duques. Nós temos o quê por aqui? O Duque Amorim, que é o duque dançarino, que dança muito bem mas não briga e o Duque de Caxias que briga muito bem, mas não dança. E agora eu, que brigo e danço conforme a música."

Em 1934, fundou o Jornal do Povo. Nos dez dias em que durou, o jornal publicou em fascículos a história de João Cândido, um dos marinheiros da Revolta da Chibata, de 1910 chamando-o carinhosamente de "Almirante negro". 
O barão foi sequestrado e espancado por oficiais da Marinha. Depois disso, voltou à redação do jornal e colocou uma placa na porta onde se lia: "Entre sem bater".
Militante e um dos fundadores da Aliança Nacional Libertadora, foi preso pela polícia política de Getúlio Vargas e ficou na Casa de Correção durante todo o ano de 1936. Ali conviveu com Graciliano Ramos, que descreveria o encontro dos dois na cadeia e o drama de centenas de presos políticos em "Memórias do Cárcere".
Continuaria a entrar e sair da prisão quando Getúlio se tornou ditador, durante o período chamado Estado Novo (1937-1945). Nessa ocasião, o barão já se casara pela terceira vez - e logo ficaria viúvo.
Durante seis anos, a partir de janeiro de 1938, publicou no "Diário de Notícias" a coluna "A manhã tem mais...".
Em 1945, conheceu Pablo Neruda, o poeta chileno, que lhe dedicou estes versos: "Ao Barão de Itararé / um grande entre os grandes / com respeito o saúda / de pé / o poeta dos Andes: / Neruda". No mesmo ano, ressurgiu "A Manha", com enorme sucesso. Colaboravam no jornal escritores de renome: José Lins do Rego, Sérgio Milliet, Rubem Braga, Raimundo Magalhães Jr. e Álvaro Lins.
Aporelly, como o humorista assinava, foi eleito vereador do Rio de Janeiro pelo Partido Comunista Brasileiro. O slogan de sua campanha política era: "Mais leite, mais água, mas menos água no leite - Vote no Barão de Itararé, Aparício Torelly". Em 1947, o registro do partido foi cassado e o "barão" perdeu o mandato.

Convidado pelo líder comunista Luiz Carlos Prestes, Aporelly começou a escrever na "Folha do Povo", junto com o poeta Carlos Drummond de Andrade, o pintor Di Cavalcanti e o escritor Jorge Amado.


Nos anos 1950, "A Manha" voltou novamente a circular e o jornalista passou a viver em São Paulo. Nessa época, lançou várias edições do "Almanhaque", uma paródia dos almanaques tradicionais. Trazia, por exemplo, a biografia de Aparício e de sua família. Senhor feudal de Bangu-sur-mer, o barão seria um "homem sem segredos que vive às claras, aproveitando as gemas e sem desprezar as cascas", um "grande herói que a pátria chora em vida e há de sorrir, incrédula, quando o souber morto".


Outra marca registrada de Aporelly está presente no "Almanhaque": suas tiradas, como: "A estrela de Belém foi o primeiro anúncio luminoso" ou a confusão que o teria feito aderir ao integralismo, cujo lema era "Deus, Pátria e Família!", e que o barão teria entendido como "Adeus, pátria e família!".


Convidado pelo governo comunista de Pequim, o barão fez uma viagem pela China, em 1963, e foi também a Moscou, capital da Rússia (então União Soviética). De volta ao Rio de Janeiro, isolou-se em seu pequeno apartamento, no bairro de Laranjeiras, onde morou até sua morte, aos 76 anos.
Fontes:
 http://pensador.uol.com.br/autor/barao_de_itarare/biografia/
Entre sem bater - a vida de Apparício Torelly - o Barão de Itararé - Figueiredo,Claudio Editora Casa da Palavra


segunda-feira, 3 de agosto de 2015

O mais sangrento conflito armado da história da América Latina


Relíquias de um conflito do século XIX: 15 raras fotografias da Guerra do Paraguai



Artilharia uruguaia na Batalha do Boqueirão, e ao fundo tropas da tríplice aliança indo para o combate,1866.

República do Paraguai lutou até o último suspiro, no que resultou no massacre de quase toda população economicamente ativa do país. 

A Guerra do Paraguai (1864-1870) teve consequências sérias para os dois lados combatentes, e entre os milhares de mortos, o mais radical resultado foi a conversão do Paraguai de uma pioneira república autossuficiente em uma nação miserável. Entre outros efeitos, também podemos destacar o fortalecimento do exército brasileiro e do pensamento abolicionista, dois pontos que influenciaram no processo que iria desencadear na Proclamação da República do Brasil em 1889. 

Nos últimos anos essa temática vem sendo reavaliada por historiadores que se dividem entre correntes divergentes: alguns se referem ao Paraguai como uma grande vítima de interesses imperialistas envolvendo Brasil e Inglaterra; outros preferem ver o episódio de forma a diminuir uma suposta figura "idealizada" criada em torno da nação paraguaia. Neste contexto, alguns livros foram publicados reunindo a iconografia da Guerra, contemplando entre ilustrações e pinturas, algumas fotografias que podem enriquecer o imaginário sobre o período.
"Meu objetivo é ajudar na construção de uma memória da guerra que não seja laudatória nem depreciativa, mas dê a real dimensão da participação da sociedade brasileira no conflito"                                                                                                       Ricardo Salles, historiador carioca que publicou um dos livros a respeito. 
As fotos abaixo estão nesses livros e são do acervo da Biblioteca Nacional do Brasil, confira:
A bandeira do Brasil Imperial tremula na cidade paraguaia de Humaitá, ao fundo podemos ver mastros de navios de guerra ancorados no Rio Paraguai,1868.

     
Oficiais brasileiros posando para fotografias (1865; 1868).

Membros do Batalhão de Voluntários da Pátria, regimento proveniente da longínqua província do Ceará, entre 1867 e 1868.

     
Na foto à esquerda, cadáveres de paraguaios vítimas da Batalha do Boqueirão, 1866; à direita, um militar junto a dois meninos paraguaios que cresceram durante o conflito, eles se vestiam como soldados, 1868.

Soldados brasileiros ajoelham-se diante da estátua de Nossa Senhora da Conceição durante uma procissão, 1868.

Coronel Faria da Rocha revista tropas brasileiras em Tayi, Paraguai,1868.

Oficial brasileiro ao lado de um prisioneiro paraguaio, foto datada entre 1865 e 1868.

Nesta imagem podemos ver um religioso brasileiro junto a civis paraguaios. Os homens em pé ao fundo são das forças aliadas foto datada entre 1869 e 1870.


Prisioneiros paraguaios fotografados durante a ocupação de Assunção, capital do país.

Oficiais brasileiros nos momentos finais da Guerra do Paraguai, entre eles está o Conde d´Eu (com a mão na cintura), 1870.

    
À esquerda o Imperador Pedro II usando trajes típicos durante uma visita ao Rio Grande do Sul, 1865; à direita a última foto de Solano López, 1870.

Fontes:
Lago, Bia Corrêa do. Os fotógrafos do Império: a fotografia brasileira no Século XIX. Rio de Janeiro: Capivara, 2005.
Salles, Ricardo. Guerra do Paraguai: memórias & imagens. Rio de Janeiro: Edições Biblioteca Nacional, 2003.
Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 19, nº 38, p. 283-310. 1999

Bruno Henrique Brito Lopes 
Graduando em História pela Universidade Católica de Pernambuco. 

segunda-feira, 27 de julho de 2015

DESCONSTRUINDO O MITO: "BRASILEIRO, POVO PACÍFICO"

10 fotografias que retratam a História do Brasil de uma maneira que você não está habituado

Cabeças decapitadas do temido bando de cangaceiros de Lampião, elas foram expostas ao público após uma emboscada que matou 11 dos 34 membro do grupo, incluindo Lampião e Maria Bonita. Eles foram alvejados a tiros de metralhadora em uma madrugada chuvosa em um esconderijo no sertão de Sergipe, foto de 1938.

Quando você pensa em História do Brasil, o que vem a sua cabeça? É comum ter como resposta qualquer coisa como "um país pacífico e cordial de histórias cheias de politicagens pouco interessantes". Um olhar mais atento sobre alguns acontecimentos e dados pode revelar, para o bem ou para o mal, exatamente o contrário: somos um país extremamente violento e com episódios históricos assombrantes. 


O palco da desigualdade também revela números apavorantes: um terço de todos homicídios do continente americano acontecem aqui, somos responsáveis por 10% de todos os assassinatos do mundo. Décadas após o fim do regime militar, tornamo-nos o primeiro país no ranking de medo de tortura policial. 

Neste sentido, é mais cabível pensar no Brasil como um país anestesiado, dopado por um discurso midiático de um povo muito cordial e passivo. As fotografias abaixo demonstram uma face pouco conhecida da nossa história. 

Escrava brasileira serve de "cavalinho" para criança branca. Esta fotografia, datada do final do século 19, tem uma carga simbólica imensa e pode ser relacionada com inúmeros eventos violentos ocorridos no Brasil durante os séculos posteriores.
Ruínas de uma igreja no Arraial de Canudos após a Guerra de Canudos, um conflito sangrento em que tropas da República entraram em confronto direto com um grupo de sertanejos que, liderados pelo peregrino Antônio Conselheiro, fundaram uma comunidade auto-suficiente, contrariando os interesses latifundiários e a política tributária do país. Não houve rendição, Canudos resistiu até o último homem, no que resultou na morte de cerca de 20 mil sertanejos, foto de 1897.

Bonde virado por populares durante a Revolta da Vacina, um conflito urbano violento que estourou  no Rio de Janeiro com a campanha de vacinação obrigatória contra a varíola. Nos primeiros anos da República, a população conviveu com um Estado cada vez mais forte e intrusivo, durante a vacinação obrigatória, era comum agentes invadirem as casas e fazerem uso da violência para aplicar a vacina, foto de 1904.

Soldados brasileiros fazem patrulha de reconhecimento após a Batalha de Montese, na Itália, a mais sangrenta participação da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Segunda Guerra Mundial, entre mortos e mutilados, calcula-se mais de mil vítimas deste confronto entre brasileiros e nazistasfoto de 1944.


Homem é torturado em público, preso ao temido pau-de-arara, durante uma demonstração de métodos de tortura institucional da Guarda Rural Indígena, em uma parada militar em Minas Gerais, foto de 1970.
As duas imagens acima, assim como a do homem torturado em um pau-de-arara, demonstram a face sombria do Regime Militar instituído a partir de 1964. Na imagem à esquerda, uma índia da tribo cinta-larga brutalmente assassinada a mando de latifundiários, ela foi cortada ao meio. Na imagem à esquerda, o corpo do jornalista Vladimir Herzorg em uma cena de suicídio forjado, ele foi uma das muitas vítimas fatais da tortura durante os anos da ditadura. Entre subversivos e "obstáculos", muitos brasileiros pagaram com a própria vida o preço de não fazer parte dos interesses dos militares.




Contagem de detentos após o Massacre do Carandiru, uma ação policial que resultou na morte de 111 presos durante uma rebelião no que era considerado a pior penitenciária da América Latina, foto de 1992.





Policial Militar do Rio de Janeiro pisa a cabeça de um suspeito algemado em uma cena que resume muitas críticas feitas à polícia militar brasileira e seus métodos de atuação. Essa foto recebeu prêmios internacionais de jornalismo e foi capa do Jornal do Brasil em 1997. 



Fontes:
http://jus.com.br/artigos/20341/o-mito-da-cordialidade-do-brasileiro-mais-uma-mentira