Meu maior medo é virar mendigo,
tenho muita admiração por quem opta por esse meio de vida, não tem moradia
fixa, um dia debaixo de uma ponte, outro dia debaixo de um viaduto, não tem de
bater ponto, não recebe ordens, é livre, a maioria está nesta condição por
opção, experimente oferecer moradia fixa e emprego para ver a resposta. O
filósofo iluminista Jean Jaques Rousseau já afirmava em seu livro “O Contrato
Social” que “O homem nasce livre e por toda a parte encontra-se acorrentado” mendigos romperam os grilhões que a sociedade
do capital nos impõe, são livres.
Certo tempo, trabalhei em uma
operadora de turismo em Porto Alegre em um suntuoso prédio de fachada
ajardinada com elevador panorâmico e cascata artificial, tudo muito bonito,
ficava na subida da Dom Pedro II, no elegante bairro de Higienópolis, o
trabalho era terrível, a demanda era absurda a rotina de trabalho extremamente
estafante, os proprietários supervisionavam o trabalho como um capataz ou
feitor de escravos, da janela do quinto andar observava o mendigo do bairro
tomando banho de sol, que inveja, analisando seu dia a dia pude constatar que
ele tinha uma vida muito melhor que a minha, se vestia com roupas de grife que
os moradores do bairro davam, comia marmita quentinha do restaurante Marquês
que os garçons separavam para ele, (restaurante que eu ia só uma vez por mês), uma
vez ia a pé para casa e achei na rua um par de pantufas velhas atirado na
calçada, era o meu número, não tive dúvidas, peguei para usar, quando minha
esposa chegou e me viu com aquelas pantufas, me perguntou de onde vieram,
respondi que havia achado na rua, ela me deu uma baita chingada, me mandou
comprar um par de pantufas no Bourbom e deixar de ser relaxado, concordei em
comprar pantufas novas e tive uma idéia de para quem daria as achadas na rua,
botei numa sacolinha e no dia seguinte passei de scooter no jardim do mendigo
perto do trabalho, quando parei ele fez uma cara estranha, como quem dizia “o
que que esse cara quer agora”, eu amarradão com o presente tirei o par de
pantufas da sacola, e para minha surpresa o mendigo o desdenhou, fazendo um
sinal de reprovação com a mão, atirei as pantufas no jardim e sai meio chateado
pela reação do mendigo pelo presente, depois parei e refleti, talvez ele mesmo
tenho jogado fora ao ganhar uma nova e eu estava querendo devolver as pantufas
que ele descartou, ingenuidade minha, o mendigo que mora em bairro de gente
rica vive melhor do que o trabalhador, o lixo dos ricos é o luxo dos pobres.
O mendigo mais celebre da nossa
história, sem dúvidas foi Diógenes de Sinope (412 a. C. a 323 a.C.), filho de
uma família nobre da Pólis Grega de Sinope, foi banido depois de descobrirem
que seu pai falsificava moedas, foi para Atenas para viver nas ruas abrindo mão
da propriedade privada convertendo a pobreza extrema em virtude, caminhava
descalço e seminu, seus únicos pertences eram um manto, um alforje, um cajado e
uma caneca, um dia vendo uma criança bebendo água com as mãos deu a caneca a
ela, vivia em uma pipa, como o personagem Chaves, (talvez inspirado em
Diógenes), defecava na frente de todo mundo provando que nenhuma atividade
humana é tão vergonhosa para requerer privacidade, andava com uma lanterna
acessa durante o dia procurando um homem honesto, costumava pedir esmolas para
estátuas e ao ser questionado, respondia que já estava acostumado com a
rejeição, certa vez, foi aprisionado e feito escravo, perguntaram o que saiba
fazer, respondeu “MANDAR”, certa vez Alexandre o Grande da Macedônia ouvindo
falar de Diógenes, decidiu ir a Atenas
para conhecê-lo, ao encontrá-lo deitado no chão tomando banho de sol, Alexandre
disse “Diga-me o que queres e será teu”, Diógenes responde “Não me ofereça o
que não podes me dar”, Alexandre ao postar-se de pé em frente a Diógenes o fez
sobra, visto que Alexandre não entendera o que Diógenes havia dito, completou,
“ Saia de onde estás, pois me tapas o sol”, Alexandre perplexo lhe deu as
costas e admitindo que apesar de ser “dono do mundo” daquele tempo, não podia
lhe dar o sol, seus generais, lhe perguntaram, “Não vis castigar o mendigo
insolente”? Alexandre respondeu, não, muito pelo contrário, “Se não fosse
Alexandre da Macedônia, gostaria de ser Diógenes de Sinope”.