A bienal do livro do Rio de Janeiro deste ano foi marcada
pela tentativa frustrada do prefeito evangélico Marcelo Crivella de recolher dos
stands a história em quadrinhos, “Vingadores a cruzada das crianças”, alegando
que o beijo entre dois personagens do mesmo sexo seria material sexual e
pornográfico e que deveria estar embalado em plástico preto lacrado com avisos
do lado de fora e de que seria impróprio para menores, o estranho é que com a violência
explícita nesse tipo de publicação ninguém se preocupa.
A bienal se recusou em acatar o pedido da prefeitura, até
porque o pedido nem poderia ser atendido, visto que todos os exemplares da tal
história em quadrinhos já haviam se esgotado dois dias antes da manifestação do
prefeito. Mesmo assim a direção da bienal veio a público afirmando que “dá voz
para todos os públicos, sem distinção, como uma democracia deve ser”, numa
clara menção de que o prefeito, pretendia na realidade, impor censura de viés
ideológico conservador.
Seus conceitos religiosos
não podem ser aplicados em um estado laico e com liberdades individuais no que
diz respeito à liberdade sexual amparados no artigo 5° da nossa constituição federal.
O Brasil há anos vem se tornando gradualmente um estado
teocrático, onde grande parte da população se rendeu ao discurso de pastores
evangélicos na busca para a salvação da maioria dos problemas, de amorosos a
financeiros, esse último é um problema passa bem longe dos pastores, pois a
salvação nunca é de graça, se dizem cristãos, mas fazem uma proposital, má
interpretação dos conceitos bíblicos, com a clara intenção de enriquecer, ás
custas da fé alheia, desse ponto de vista, não estamos muito distantes de
países como Egito e Arábia Saudita, teocracias patriarcais, em que mulheres são
apedrejadas até a morte em casos de suspeita de adultério e existem leis que
proíbem o homossexualismo (ainda considerado doença), castigando-os com prisão,
castigos e até execuções.
O Brasil é o país que mais mata homossexuais do mundo, é
claro que diferente de declaradas teocracias em que o estado se encarrega da
execução, aqui na nossa república evangélico bananeira, os nossos líderes
políticos, se eximem de sujar as mãos de sangue, passando toda a
responsabilidade pelos homicídios de homossexuais para a turba enfurecida, para
isto basta reproduzir discursos de ódio a gays que já vão empoderando todo o
tipo de sádico homicida.
Todo mundo já está careca de saber que a Grécia é o berço da
nossa civilização ocidental, o que as pessoas não sabem ou preferem não saber,
é que os gregos eram gays, ou quase isso, a pederastia, termo que os gregos
usavam para relações entre indivíduos do mesmo sexo, não tinha nenhuma
conotação pejorativa, consistia numa relação amorosa e sexual entre dois homens
de idades diferentes, em que o mais velho tinha como função ensinar o mais
novo, o homem adulto na faixa dos 20 a 30 anos, era denominado “erástes” (o amante),
e o jovem, entre 12 e 18 anos, era chamado “eromeno” (o amado), a pederastia
segundo textos de Platão, estava ligada diretamente ao ideal de educação do
jovem para o exercício de cidadania nas polis gregas como a de Atenas. A ideologia
heteronormativa que se tem hoje em dia no ocidente foi construída por volta do
século XIX, na antiguidade clássica grega era comum, homens e mulheres, ter
parceiros sexuais de ambos os sexos, vide o herói da Ilíada de Homero, o
semideus “Aquiles”, tinha várias parceiras sexuais, mas também tinha o priminho
Pátroclo que era seu amante, o Próprio Alexandre o grande da Macedônia era
casado com duas mulheres, Statira princesa da Pérsia e Roxana princesa da Bactria,
mas tudo nos leva a crer que Heféstion, seu companheiro de infância e
comandante de sua cavalaria seria seu amante, que Heféstion ligeiramente mais
velho que Alexandre teria sido seu mentor sexual e ambos foram educados por
Aristóteles em um mundo onde esse comportamento não só era visto como normal
mas também era estimulado.
A intenção de censurar de Crivella deu mais holofote para a causa
LGBT, levando a cena para as principais manchetes do país, talvez sem sua
intervenção, nem saberíamos do ocorrido.
Obscena é a fome a guerra e a desigualdade, quem considera obsceno
um simples desenho de um beijo entre duas pessoas, independente se é homo ou hetero,
deveria rever seus conceitos, procurar um psiquiatra ou sair do armário de uma
vez.