segunda-feira, 21 de março de 2022

JUVENTUDE REACIONÁRIA

 Na última semana vimos a intolerância juvenil dos bostinhas do MBL assombrar a arte,

quando a exposição Qeermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, que

estava em cartaz a há quase um mês no Santander Cultural, ser cancelada após uma

chuva de protestos nas redes sociais patrocinadas pelo Movimento Brasil Livre (MBL),

que pregava a ameaças de encerramento das contas pelos correntistas, caso a

exposição não fosse cancelada, o próprio prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan

Jr. (PSDB), apoiou o cancelamento alegando que exibiam imagens que seriam

impróprias, pois segundo ele e o MBL traziam imagens que faziam apologia a zoofilia,

pedofilia e blasfemavam símbolos religiosos.

A mostra trazia obras de artistas como Volpi e Portinari e já tinha sido exposta em

Londres, Nova York e Barcelona, e têm como o objetivo a discussão sobre a temática

LGTB, questões de gênero e diversidade sexual, temas que para a juventude

reacionária não podem ser discutidos, pois consideram tabu, ponto para os Porto

Alegrenses que no seu ufanismo caricato, se acham o melhor, mais culto e mais

educado povo do Brasil, quase uma capital Européia nos confins da América latina, só

que não.


A arte na sua vanguarda, sempre chocou a sociedade brasileira, sociedade essa sempre

movida pelo patriarcalismo, moralismo de cuecas e dogmas religiosos.

“Condenados a modernidade” essa era a palavra de ordem em Fevereiro de 1922

quando o teatro municipal de São Paulo foi ocupado por um grupo de jovens artistas e

intelectuais para uma série de recitais exposições e concertos radicalmente contrários

aos códigos visuais literários e musicais da época, em dia com as tendências européias,

eles estavam inventando a arte moderna Brasileira, a tradicional família paulistana,

ficou horrorizada com o cristo de trancinhas esculpido por Victor Brecheret e com o

Homem Amarelo pintado por Anita Malfati, quando Oswald de Andrade disse “Carlos

Gomes é horrível” a platéia da semana de arte moderna reagiu com vaias e insultos,

mas a cultura brasileira já estava voltada para o futuro, as artes nacionais passaram a

pertencer aos “Modernistas”.

O modernismo significou uma ruptura na arte tradicional e uma importante mudança

de atitude mental, estava comprometido com as mudanças de ordem social e políticas

que a nova concepção artística veio debater, a década de 1920, foi um período que

com a ajuda de modernistas como Oswald de Andrade que sugeriu uma saída

canibalesca para os impasses nacionais como o coronelismo, voto de cabresto e o

curral eleitoral que mantinham a política do café com leite de paulistas e mineiros,

ambos detentores do poder e dependentes da monocultura exportadora do café.

A partir da publicação do seu “Manifesto Antropofagista” Oswald, que gostava de

chamar o Brasil de “Pindorama”, dedicava-se discussão do que nós somos, tínhamos e

precisaríamos ter, e mesmo sem se definir ideologicamente o modernismo contribuiu,

mesmo que indiretamente, com os movimentos civis e militares que levaram o Brasil a

revolução de 1930, e talvez seja isso que nós precisamos na atualidade, uma

revolução, mas não com armas como a de 1930, mas sim, de consciência, de que

temas pontuais, abordados da Exposição Qeermuseu do Santander Cultural devem ser

expostos e debatidos com a sociedade e não varridos para baixo do tapete como

querem o MBL e o nosso jovem e reacionário prefeito da capital.