Na última semana vimos a intolerância juvenil dos bostinhas do MBL assombrar a arte,
quando a exposição Qeermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, que
estava em cartaz a há quase um mês no Santander Cultural, ser cancelada após uma
chuva de protestos nas redes sociais patrocinadas pelo Movimento Brasil Livre (MBL),
que pregava a ameaças de encerramento das contas pelos correntistas, caso a
exposição não fosse cancelada, o próprio prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan
Jr. (PSDB), apoiou o cancelamento alegando que exibiam imagens que seriam
impróprias, pois segundo ele e o MBL traziam imagens que faziam apologia a zoofilia,
pedofilia e blasfemavam símbolos religiosos.
A mostra trazia obras de artistas como Volpi e Portinari e já tinha sido exposta em
Londres, Nova York e Barcelona, e têm como o objetivo a discussão sobre a temática
LGTB, questões de gênero e diversidade sexual, temas que para a juventude
reacionária não podem ser discutidos, pois consideram tabu, ponto para os Porto
Alegrenses que no seu ufanismo caricato, se acham o melhor, mais culto e mais
educado povo do Brasil, quase uma capital Européia nos confins da América latina, só
que não.
A arte na sua vanguarda, sempre chocou a sociedade brasileira, sociedade essa sempre
movida pelo patriarcalismo, moralismo de cuecas e dogmas religiosos.
“Condenados a modernidade” essa era a palavra de ordem em Fevereiro de 1922
quando o teatro municipal de São Paulo foi ocupado por um grupo de jovens artistas e
intelectuais para uma série de recitais exposições e concertos radicalmente contrários
aos códigos visuais literários e musicais da época, em dia com as tendências européias,
eles estavam inventando a arte moderna Brasileira, a tradicional família paulistana,
ficou horrorizada com o cristo de trancinhas esculpido por Victor Brecheret e com o
Homem Amarelo pintado por Anita Malfati, quando Oswald de Andrade disse “Carlos
Gomes é horrível” a platéia da semana de arte moderna reagiu com vaias e insultos,
mas a cultura brasileira já estava voltada para o futuro, as artes nacionais passaram a
pertencer aos “Modernistas”.
O modernismo significou uma ruptura na arte tradicional e uma importante mudança
de atitude mental, estava comprometido com as mudanças de ordem social e políticas
que a nova concepção artística veio debater, a década de 1920, foi um período que
com a ajuda de modernistas como Oswald de Andrade que sugeriu uma saída
canibalesca para os impasses nacionais como o coronelismo, voto de cabresto e o
curral eleitoral que mantinham a política do café com leite de paulistas e mineiros,
ambos detentores do poder e dependentes da monocultura exportadora do café.
A partir da publicação do seu “Manifesto Antropofagista” Oswald, que gostava de
chamar o Brasil de “Pindorama”, dedicava-se discussão do que nós somos, tínhamos e
precisaríamos ter, e mesmo sem se definir ideologicamente o modernismo contribuiu,
mesmo que indiretamente, com os movimentos civis e militares que levaram o Brasil a
revolução de 1930, e talvez seja isso que nós precisamos na atualidade, uma
revolução, mas não com armas como a de 1930, mas sim, de consciência, de que
temas pontuais, abordados da Exposição Qeermuseu do Santander Cultural devem ser
expostos e debatidos com a sociedade e não varridos para baixo do tapete como
querem o MBL e o nosso jovem e reacionário prefeito da capital.
Nenhum comentário:
Postar um comentário