quarta-feira, 27 de novembro de 2019

OLAVISMO, DISCURSO NA ONU E RASPUTIN


Depois de assistir a tragédia que foi o discurso do Bolsonaro na ONU terça passada dia 24 de Setembro, tiramos várias conclusões daquela enxurrada de delírios, bobagens e conspirações, a principal delas é que, ao que tudo indica, eles acreditam realmente no que defendem, ao contrário do que alguns pensam, de que era material só de uso exclusivo para a campanha de fakenews que alavancaram a vitoria da direita histérica, ou seja, eles realmente acreditam naquilo tudo.
Quando digo, “eles”, no plural, é porque há um feudo em volta da família Bolsonaro, numa verdadeira relação de vassalagem, susseranagem e servidão, digna da idade média, grupos distintos formam essa rede de trocas de privilégios, informações e capital, podemos dizer que tem ala miliciana liderada por Flavio Bolsonaro, que empregou a mãe do ex- capitão do BOPE e agora foragido da lei Adriano Magalhães da Nobrega, chefe da “banda podre” da polícia que comete assassinatos por encomenda, suspeito de ser parte do grupo que assassinou a vereadora Marielle Franco. Tem o grupo dos lambe botas, que quer intervenção militar, esses sim tem um grupo grande de seguidores de jovens a idosos, os jovens geralmente que nasceram depois do fim da ditadura e nem sabem direito o que foi, e os mais velhos que viveram na ditadura mas foram bunda moles demais para se posicionar contra.
Tem os liberais, que são liberais só na economia, mas conservadores nos costumes, essa ala liderada pelo Chicagoboy, Paulo Guedes, (também conhecido por posto Ipiranga), caras que são admiradores de Ronald Regan e Margaret Tatcher, querem aplicar conceitos neoliberais do início da década de 1980 e, em pleno século XXI, bom para ele que é banqueiro dono do BTG Pactual, quando o povo ta precisando de dinheiro onde procuram? Logicamente um banco, então se toma medidas de austeridade, corta-se o capital social para o capital privado lucrar.
E tem a banda do filósofo do fiofó, o astrólogo que se diz filósofo, Olavo de Carvalho, o cara que mora ilegalmente no estado Norte Americano da Virgínia e é contra a imigração ilegal, defensor do terraplanismo e de todo o tipo de conspirações contra a “sociedade judaico-cristã ocidental”, impõe um comportamento sectário a seus seguidores, tendo de entoar seu mantra sem questionar uma vírgula, o líder é incontestável, se você se opõe a qualquer coisa é expulso do grupo e execrado e é promovido um linchamento virtual nas redes sociais pelo secto obscurantista.


Esse último grupo é o maior e mais perigoso, pois faz amplo uso de ferramentas virtuais para promover e propagar mentiras, trapaças e até assassinatos, parece que o ideal do livro “O Principe”, de Maquiavel foi levado a risca.
Grigori Yefimovich Rasputim, nasceu em Petrogrado atual São Petersburgo na Rússia, em 1869, de família pobre, nem sequer chegou a ser alfabetizado, tinha fama de poder prever o futuro, o que lhe legava a fama de ter “poderes sobrenaturais”, quando o Kzar Nicolau II tomou conhecimento desses poderes, chamou-o para ajudar seu filho que sofria de hemofilia, após o sucesso do tratamento Rasputin foi chamado para o convívio com a família real, conquistando grande influência nas cortes, passando a viver uma vida de orgias e bebedeiras, o “Monge Louco”, como era chamado, passou a ter grande influência política, conquistando assim muitos inimigos, quando estoura a 1° Guerra Mundial, o serviço secreto Britânico recebe informações de que ele estaria pedindo ao Kzar para fazer um acordo de paz com a Alemanha, dizem que os britânicos teriam patrocinando assim seu assassinato em 1916, a própria família real que o acolhera foi brutalmente assassinada dois anos depois no desenrolar da revolução Russa.
E o que que tem a ver Olavo com Rasputim? Pho “tudo”, Olavo estudou só até a 8° série do primário, Rasputin era analfabeto, os dois são lideres messiânicos considerados loucos mas com grande influência nas cúpulas de poder (Rússia Kzarista e Brasil Bolsonarista).
O povo Russo que se sublevou na revolução de 1917, configura o mesmo descontentamento que o povo do Brasil de 2019 está exausto de bobagens de monarcas e de gurus loucos.



terça-feira, 17 de setembro de 2019

A cruzada obscurantista de Crivella e o tiro que saiu pela culatra.


A bienal do livro do Rio de Janeiro deste ano foi marcada pela tentativa frustrada do prefeito evangélico Marcelo Crivella de recolher dos stands a história em quadrinhos, “Vingadores a cruzada das crianças”, alegando que o beijo entre dois personagens do mesmo sexo seria material sexual e pornográfico e que deveria estar embalado em plástico preto lacrado com avisos do lado de fora e de que seria impróprio para menores, o estranho é que com a violência explícita nesse tipo de publicação ninguém se preocupa.
A bienal se recusou em acatar o pedido da prefeitura, até porque o pedido nem poderia ser atendido, visto que todos os exemplares da tal história em quadrinhos já haviam se esgotado dois dias antes da manifestação do prefeito. Mesmo assim a direção da bienal veio a público afirmando que “dá voz para todos os públicos, sem distinção, como uma democracia deve ser”, numa clara menção de que o prefeito, pretendia na realidade, impor censura de viés ideológico conservador.
 Seus conceitos religiosos não podem ser aplicados em um estado laico e com liberdades individuais no que diz respeito à liberdade sexual amparados no artigo 5° da nossa constituição federal.
O Brasil há anos vem se tornando gradualmente um estado teocrático, onde grande parte da população se rendeu ao discurso de pastores evangélicos na busca para a salvação da maioria dos problemas, de amorosos a financeiros, esse último é um problema passa bem longe dos pastores, pois a salvação nunca é de graça, se dizem cristãos, mas fazem uma proposital, má interpretação dos conceitos bíblicos, com a clara intenção de enriquecer, ás custas da fé alheia, desse ponto de vista, não estamos muito distantes de países como Egito e Arábia Saudita, teocracias patriarcais, em que mulheres são apedrejadas até a morte em casos de suspeita de adultério e existem leis que proíbem o homossexualismo (ainda considerado doença), castigando-os com prisão, castigos e até execuções.
O Brasil é o país que mais mata homossexuais do mundo, é claro que diferente de declaradas teocracias em que o estado se encarrega da execução, aqui na nossa república evangélico bananeira, os nossos líderes políticos, se eximem de sujar as mãos de sangue, passando toda a responsabilidade pelos homicídios de homossexuais para a turba enfurecida, para isto basta reproduzir discursos de ódio a gays que já vão empoderando todo o tipo de sádico homicida.
Todo mundo já está careca de saber que a Grécia é o berço da nossa civilização ocidental, o que as pessoas não sabem ou preferem não saber, é que os gregos eram gays, ou quase isso, a pederastia, termo que os gregos usavam para relações entre indivíduos do mesmo sexo, não tinha nenhuma conotação pejorativa, consistia numa relação amorosa e sexual entre dois homens de idades diferentes, em que o mais velho tinha como função ensinar o mais novo, o homem adulto na faixa dos 20 a 30 anos, era denominado “erástes” (o amante), e o jovem, entre 12 e 18 anos, era chamado “eromeno” (o amado), a pederastia segundo textos de Platão, estava ligada diretamente ao ideal de educação do jovem para o exercício de cidadania nas polis gregas como a de Atenas. A ideologia heteronormativa que se tem hoje em dia no ocidente foi construída por volta do século XIX, na antiguidade clássica grega era comum, homens e mulheres, ter parceiros sexuais de ambos os sexos, vide o herói da Ilíada de Homero, o semideus “Aquiles”, tinha várias parceiras sexuais, mas também tinha o priminho Pátroclo que era seu amante, o Próprio Alexandre o grande da Macedônia era casado com duas mulheres, Statira princesa da Pérsia e Roxana princesa da Bactria, mas tudo nos leva a crer que Heféstion, seu companheiro de infância e comandante de sua cavalaria seria seu amante, que Heféstion ligeiramente mais velho que Alexandre teria sido seu mentor sexual e ambos foram educados por Aristóteles em um mundo onde esse comportamento não só era visto como normal mas também era estimulado.

A intenção de censurar de Crivella deu mais holofote para a causa LGBT, levando a cena para as principais manchetes do país, talvez sem sua intervenção, nem saberíamos do ocorrido.
Obscena é a fome a guerra e a desigualdade, quem considera obsceno um simples desenho de um beijo entre duas pessoas, independente se é homo ou hetero, deveria rever seus conceitos, procurar um psiquiatra ou sair do armário de uma vez.   




quarta-feira, 11 de setembro de 2019

SOFISTAS X COACHING


Os Sofistas eram os caras que vendiam o conhecimento na Grécia antiga, consideravam-se supersábios, antes mesmo de haver escolas, então onde aprendiam? Pois é, o pouco que se sabe é que eram itinerantes, viajavam de cidade em cidade do mundo Grego e ensinavam de tudo, dês de fabricar sapatos até a ciência política, para quem estivesse disposto a pagar, é claro.
A pólis Grega de Atenas, berço da democracia, era o principal palco de atuação dos sofistas, a arte da retórica e da oratória eram virtudes necessárias para o bom desempenho na vida publica.
A retórica, principal arma dos Sofistas, está baseada na arte através da oratória, derrubar teses contrárias as suas e convencer as pessoas que a sua verdade é a verdade absoluta.
Os Sofistas eram os donos do campinho até que surge Sócrates com a sua dialética, o pai da Filosofia afirmava que, a opinião é uma expressão individual, já o conceito é universal, isto é, valido para todos. Nesse sentido, os sofistas ensinavam a retórica para convencer os outros que sua opinião é a melhor. Já Sócrates ensinava a dialética, ou seja, fazia de conta que não sabia nada para levar as pessoas admitirem a sua falta de conhecimento, e através de questionamentos, chegar a um conhecimento próprio.
Sócrates ensinava em espaços públicos, e não cobrava por suas aulas, pois para ele, o ensino não era uma mercadoria que podia ser comprado e afirmava que a verdade está no interior de cada indivíduo, conceito sintetizado na frase de Sócrates, “Conhece-te a ti mesmo e conhecerá os deuses e o universo”.
O fim de Sócrates foi trágico, foi acusado de “corromper a juventude Ateniense”, foi condenado a morte por envenenamento.
Ta e os Coachs? Como profissão o termo começou nos Estados Unidos quando as técnicas  do treinador esportivo, que é Coach em inglês, foi adaptado ao mundo dos negócios, quando eles se propuseram a dar palestras motivacionais, isso abriu uma espécie de caixa de Pandora, porque gente com profissões respeitadas se posicionaram como coachs, tipo professor de língua portuguesa se apresentando como “coach para concurseiro”, daí em diante é ladeira abaixo, uma horda de leigos tem se apresentado como especialistas em quase tudo, mas detalhe, sem a mínima formação acadêmica, desprezam o conhecimento a pesquisa acadêmica e os profissionais diplomados, tem coach pra tudo, depressão, emagrecimento, relacionamento e até para se tornar milionário reprogramando seu DNA, o charlatanismo é tamanho, que tem até Coach afirmando que os judeus nos campos de concentração na Alemanha Nazista simplesmente se entregavam, porque não tinham um “propósito maior”, e a figura do Coach reprogramaria suas mentes salvado-os do holocausto, ou seja, na visão deles, faltou um Coach para os judeus.

A crise econômica que o Brasil enfrenta na atualidade, é campo fértil para esse tipo de oportunismo, focam nos desempregados que devido à condição, estão mais vulneráveis e com auto-estima baixa, rotulando-os como pessoas com inabilidade emocional, ou em pessoas com dificuldades interpessoais, se em um relacionamento, por exemplo, você é traído, apontam a culpa como sendo sua, pois não tem o que chamam de “Inteligência emocional”, apresentando-se como a mão amiga disposta a ajudar, contanto que você pague o preço da ajuda.
Com vocabulário próprio, esse pessoal coloca uma roupa nova em conceitos conservadores, trabalhador passa a ser chamado de “colaborador”, com a clara intenção de fazer você esquecer que está trocando força de trabalho por capital, tornando-se um colaborador você passa a pensar que trabalha por um “bem maior”, que na realidade é o enriquecimento do patrão, ou usando a expressão “Resiliência”, criada para glamorizar o sofrimento individual em detrimento dos problemas sociais, costumam também utilizar palavras em inglês com intenção de trazer uma conotação intelectual, mesmo a palavra tendo o mesmo significado em português, com a clara intenção de monstrar que o Coach é um especialista no assunto, escancarando o caráter de sobreposicionamento da cultura norte americana sobre a nossa e o grau de subserviência em relação a ela, viralatismo puro.
Quase todo Coach tem um guru pseudointelectual, o cara que é sustentado pela rede de seguidores que reproduzem os seus conceitos, criando uma espécie de pirâmide, onde quanto maior a sua base de apoio maior a visibilidade e o capital acumulado, algo tipo relação de vassalagem e susseranagem do período feudal, só que adaptada ao século vinte e um.
Existe um projeto de lei tramitando no senado que criminaliza quem tem real propósito de enriquecimento a curto prazo com a exploração da boa-fé das pessoas por Coachs que não tem certificação legal nem diploma válido.

Já que não temos um Sócrates para contrapor os Neosofistas, a sociedade organizada deve impor a agrura da lei para coibir a pratica de falsas promessas e a proliferação de enganadores e charlatões.

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

MENDICÂNCIA, IRRESISTÍVEL ATRAÇÃO


Meu maior medo é virar mendigo, tenho muita admiração por quem opta por esse meio de vida, não tem moradia fixa, um dia debaixo de uma ponte, outro dia debaixo de um viaduto, não tem de bater ponto, não recebe ordens, é livre, a maioria está nesta condição por opção, experimente oferecer moradia fixa e emprego para ver a resposta. O filósofo iluminista Jean Jaques Rousseau já afirmava em seu livro “O Contrato Social” que “O homem nasce livre e por toda a parte encontra-se acorrentado”  mendigos romperam os grilhões que a sociedade do capital nos impõe, são livres.
Certo tempo, trabalhei em uma operadora de turismo em Porto Alegre em um suntuoso prédio de fachada ajardinada com elevador panorâmico e cascata artificial, tudo muito bonito, ficava na subida da Dom Pedro II, no elegante bairro de Higienópolis, o trabalho era terrível, a demanda era absurda a rotina de trabalho extremamente estafante, os proprietários supervisionavam o trabalho como um capataz ou feitor de escravos, da janela do quinto andar observava o mendigo do bairro tomando banho de sol, que inveja, analisando seu dia a dia pude constatar que ele tinha uma vida muito melhor que a minha, se vestia com roupas de grife que os moradores do bairro davam, comia marmita quentinha do restaurante Marquês que os garçons separavam para ele, (restaurante que eu ia só uma vez por mês), uma vez ia a pé para casa e achei na rua um par de pantufas velhas atirado na calçada, era o meu número, não tive dúvidas, peguei para usar, quando minha esposa chegou e me viu com aquelas pantufas, me perguntou de onde vieram, respondi que havia achado na rua, ela me deu uma baita chingada, me mandou comprar um par de pantufas no Bourbom e deixar de ser relaxado, concordei em comprar pantufas novas e tive uma idéia de para quem daria as achadas na rua, botei numa sacolinha e no dia seguinte passei de scooter no jardim do mendigo perto do trabalho, quando parei ele fez uma cara estranha, como quem dizia “o que que esse cara quer agora”, eu amarradão com o presente tirei o par de pantufas da sacola, e para minha surpresa o mendigo o desdenhou, fazendo um sinal de reprovação com a mão, atirei as pantufas no jardim e sai meio chateado pela reação do mendigo pelo presente, depois parei e refleti, talvez ele mesmo tenho jogado fora ao ganhar uma nova e eu estava querendo devolver as pantufas que ele descartou, ingenuidade minha, o mendigo que mora em bairro de gente rica vive melhor do que o trabalhador, o lixo dos ricos é o luxo dos pobres.

O mendigo mais celebre da nossa história, sem dúvidas foi Diógenes de Sinope (412 a. C. a 323 a.C.), filho de uma família nobre da Pólis Grega de Sinope, foi banido depois de descobrirem que seu pai falsificava moedas, foi para Atenas para viver nas ruas abrindo mão da propriedade privada convertendo a pobreza extrema em virtude, caminhava descalço e seminu, seus únicos pertences eram um manto, um alforje, um cajado e uma caneca, um dia vendo uma criança bebendo água com as mãos deu a caneca a ela, vivia em uma pipa, como o personagem Chaves, (talvez inspirado em Diógenes), defecava na frente de todo mundo provando que nenhuma atividade humana é tão vergonhosa para requerer privacidade, andava com uma lanterna acessa durante o dia procurando um homem honesto, costumava pedir esmolas para estátuas e ao ser questionado, respondia que já estava acostumado com a rejeição, certa vez, foi aprisionado e feito escravo, perguntaram o que saiba fazer, respondeu “MANDAR”, certa vez Alexandre o Grande da Macedônia ouvindo falar de Diógenes, decidiu ir  a Atenas para conhecê-lo, ao encontrá-lo deitado no chão tomando banho de sol, Alexandre disse “Diga-me o que queres e será teu”, Diógenes responde “Não me ofereça o que não podes me dar”, Alexandre ao postar-se de pé em frente a Diógenes o fez sobra, visto que Alexandre não entendera o que Diógenes havia dito, completou, “ Saia de onde estás, pois me tapas o sol”, Alexandre perplexo lhe deu as costas e admitindo que apesar de ser “dono do mundo” daquele tempo, não podia lhe dar o sol, seus generais, lhe perguntaram, “Não vis castigar o mendigo insolente”? Alexandre respondeu, não, muito pelo contrário, “Se não fosse Alexandre da Macedônia, gostaria de ser Diógenes de Sinope”.

terça-feira, 23 de julho de 2019

O Segundo Sexo


Há setenta anos, Simone de Beauvoir escrevia sua mais celebre obra “ O Segundo sexo”, proclamado hino à liberdade feminina, deu pontapé inicial a luta por igualdade de gênero, em 1949, a geração pós-guerra, os chamados “Baby Boomers” nasceram em um mundo diferente das gerações anteriores as suas, um mundo em que a mulher substituiu o homem em larga escala no trabalho industrial, com esse convívio laboral e sem a supervisão dos maridos que lutavam no front, as mulheres puderam se organizar para que pudessem manter essas liberdades individuais políticas e econômicas,  mesmo após o fim do conflito, no mundo bi-polarizado que se iniciara, o conservadorismo do capitalismo ocidental lhes fechou as portas do mercado de trabalho e do acesso a educação, enquanto no bloco comunista mulheres se tornaram cientistas e engenheiras.
“A mulher tem sido objeto de um processo de diminuição desde a aurora das ciências”, frase que sintetiza a obra de Beauvoir, afirma que tanto na arte como na cultura a figura da fêmea foi inferiorizada ao longo da história.
Na passagem do período paleolítico para o neolítico, os grupos humanos passaram do nomadismo ao sedentarismo, e da caça e coleta para a domesticação dos animais e a manipulação dos grãos, a divisão de classes e de tarefas antes disso, era por gênero, os homens caçavam e as mulheres coletavam, não existia monogamia, os grupos humanos não relacionavam o sexo com a reprodução, faziam sexo por puro prazer, e a prole vinha naturalmente, cerca de 12.500 anos atrás, muito provavelmente as mulheres, inventaram a agricultura e a necessidade de se fixar em uma terra fértil, os homens passaram a capturar os animais ao invés de abatê-los, domesticando-os criaram a pecuária e o moderno termo “gigolô de vaca”, fixando-se, um primeiro homem cercou o primeiro pedaço de terra, afirmando que era seu, criando assim a propriedade privada, quando chegou a velhice, preocupou-se pela primeira vez, para quem deixaria o que construíra, nesse momento a figura do herdeiro aparece, o homem transforma a mulher também em sua propriedade para garantir que a prole tenha sua carga genética, eis que surge ai a monogamia.   
A submissão da mulher foi inserida no imaginário coletivo demonizando-as, criando bruxas feias e velhas com verrugas e que distribuem frutas envenenadas, enquanto os bruxos como Merlin, Gangalf e o jovem Harry Potter, salvam a humanidade. 
No Brasil, uma sociedade com um histórico patriarcal e eclesiástico, onde a poligamia dos nativos, e a miscigenação com primeiros degredados portugueses do século XVI, foi combatida pelo clero e pela nobreza, com a exportação de meninas órfãs de Portugal para se casarem forçadas com bandeirantes e piratas do sertão, homens de costumes bárbaros que já haviam sido deportados de terras européias, na maioria das vezes por crimes de heresia, crianças com no máximo 14 anos, vitimas do terrorismo do estado absolutista, a elite branca colonial Brasileira é herdeira da violência contra a mulher, no nosso patriarcado tropical do século XXI onde figuras publicas falam abertamente em estupro, onde a violência contra a mulher é relativizada, é possível que as relações fraternas entre casais humanos (de qualquer orientação sexual), custem a se concretizar.

A Síndrome de Gabriela


Cada dia que passa, fica mais difícil de falar sobre política no Brasil, pois o entendimento que a população tem sobre a política é desconexo da realidade, existe um senso comum de que política, em nossa democracia representativa, é vedada a uma classe de pessoas que, “supostamente”, teriam vocação para tratar de assuntos relacionados a máquina pública, sendo assim, entramos no campo do, “nós e eles”.
   Costumo perguntar para meus alunos do ensino médio, o que é política? O que eles entendem por política? E é comum, receber respostas do tipo “é roubar”, algo como uma arte, tipo crime do colarinho branco, as pessoas em geral, não se vêem representadas, até por que político é um cargo eletivo, passivo de mandato temporário, mas, uma vez que você entra, não sai mais, salvo raras exceções, então quando há eleições, para a maioria das pessoas, nós estamos mantendo cargos políticos ou encerando-os, há muito pouca rotatividade nos cargos políticos, salvo nas últimas eleições, em que houve uma aposta por parte da população por novatos, em uma tentativa compreensível de acabar com a “velha política de troca de favores”, e o resultado desta renovação está bem abaixo das nossas expectativas.
  Certa vez, arrisquei tentar explicar a origem etimológica da política há um aluno do segundo ano do ensino médio, que o termo havia surgido com as Polis Gregas da antiguidade, e a política em seus primórdios era baseada na democracia direta, o aluno respondeu que isso não era política, expliquei que se você quer entender de determinado assunto, você tem de saber sua origem e propósito, e ele me respondeu que não era isso, afirmando que não sabia o que era, mas não era aquilo. Assim fica difícil explicar algo do princípio, quando há negação da ciência, a fronteira do ciente para o não ciente cai por terra.
 A internet tem parte de culpa na desconexão da realidade quando qualquer pessoa pode expressar sua opinião sem ter nenhum argumento para defende-la, passamos para o campo do “achismo”, um neologismo cada vez mais comum no nosso cotidiano.

  O debate para nós profissionais das ciências humanas nunca foi tão difícil como ultimamente, com a geração Wikipedia baseada na pós-verdade. Isso não acontece em outras ciências, por exemplo, um dentista, nenhum leigo questiona o seu diagnóstico, pois seu conhecimento acadêmico é respeitado, ninguém chega no consultório orientando-o de qual procedimento ele deve tomar, o mesmo vale para todas as outras ciências como, engenharia, direito ou medicina, agora o professor de história e de outras ciências humanas, é sempre questionado, pois segundo os leigos, está tudo na internet, sim concordo em parte, o conteúdo das outras ciências também está disponível na internet, mas ter uma conta no facebook, participar de grupos de watsapp, e ter pacote de dados não me transforma automaticamente em doutor em nada, muito menos especialista em qualquer ciência.
  Além do “achismo” e da “pós’verdade”, convivemos com o fenômeno da “mula empacada”, ou como alguns especialistas gostam de rotular “Síndrome de Gabriela”, nome em referência a letra de Dorival Caymme, eternizada na música de Gal Costa, com o refrão “Eu nasci assim, eu cresci assim... vou ser sempre assim”, fenômeno em que o indivíduo nega todas as fontes factuais que contradizem suas convicções.
  Indaguei meu sogro no feriado de páscoa sobre as declarações do ministro da justiça, que ao conceder uma entrevista usou a palavra “conge” ao se referir a cônjuge, e o que ele achava daquilo, para minha surpresa, resumindo, ele me explicou que o  que ministro falara, estava correto, o resto do mundo que entendeu errado.    
 Tempos difíceis...      

A LEI ANTICRIME DE MORO E A LICENÇA PARA MATAR



Analisando a proposta do super ministro da justiça Sergio Moro, a que permite as forças policiais basicamente atirem primeiro e perguntem depois, essa alteração do código penal prevê que o policial pode agir em “legítima defesa” se decorrer, “medo”, “surpresa” ou “violenta emoção”,  o Brasil é o primeiro do ranking em que a polícia mais mata no mundo, onde só quem morre em confrontos com a polícia é justamente a população menos privilegiada, negra, parda e da periferia, a história de violência contra essas populações vem desde o período pré-colonial, onde os nativos foram capturados em suas aldeias e sistematicamente assassinados e escravizados, com o convívio com os colonos, essas populações entraram em contato com doenças européias que causaram grande mortalidade, a solução foi importar mão de obra do continente vizinho a África, onde os nativos já tinham contato com europeus e suas doenças desde a antiguidade sendo assim, já eram imunes. Após quatro séculos de trabalho estafante em canaviais, sob a sombra da chibata e castigos físicos para os que não alcançassem as metas de produção diárias, em 1888 veio a liberdade, após a aprovação da  Lei Áurea, se inicia um processo de criminalização da cultura negra, iniciando-se com a alteração do código penal de 1890, onde passaram a ser considerados crimes; vadiagem, mendicância e a capoeira, no processo de substituição de mão de obra, (escrava para assalariada), não estava nos planos dos cafeicultores e usineiros o uso da mão de obra disponível, pois no conceito eugenista da época, os Africanos, nativos Americanos e Asiáticos estavam abaixo dos Europeus em nível evolutivo e civilizatório, portanto foram intensificadas as políticas de imigração de Europeus, na sua maioria Alemães e Italianos, justamente refugiados de países que surgiram como estados nacionais na segunda metade do século XIX por meio de lutas internas, (qualquer semelhança com a Síria do sec. XXI não é mera coincidência), as populações de afro descendentes sobrou a periferia da sociedade e a perseguição promovida pelo estado. O Brasil tem a segunda maior população carcerária do mundo, os presídios Brasileiros tem, dois terços de sua população carcerária composta por negros, vivemos em um pais construído por mão de obra escrava negra e de recompensa o estado mata, exclui e nega a liberdade dessas populações.

                Madrugada do dia 29 de Agosto de 1993, a favela de Vigário Geral é invadida por cerca de, 36 homens encapuzados e armados que matavam quem estivesse em seu caminho, ao todo, executaram aleatoriamente, vinte e um moradores, nenhuma vitima tinha antecedentes criminais,  a Chacina de Vigário Geral foi uma maiores ocorridas no estado do Rio de Janeiro,  ocorreu como represália a morte de policiais em um confronto com traficantes locais, o caso chegou a ser julgado na Organização dos Estados Americanos (OEA) como crime contra os direitos humanos, dos 50 policiais acusados de participar do massacre apenas um foi condenado, os demais foram absolvidos por falta de provas.

                Desde nossa primeira constituição em 1824, foram adotados os três poderes, executivo, legislativo e judiciário, (em 1824 ainda tinha o poder moderador, mas não vem ao caso), ambos poderes são representados, até hoje em dia,  pela elite branca com herança escravista, se pesquisarmos a arvore genealógica dos caciques da política Brasileira, certamente vamos encontrar um escravista, segundo dados do IBGE, negros compões 54% da população Brasileira, mas ainda não tem representatividade efetiva na política nacional, pois há somente 4,2% de negros na vida publica, a falta de conscientização da população na escolha de seus representantes, ainda esbarra em conceitos históricos de cor, classe e preconceito.