quinta-feira, 16 de março de 2023

A lei de Gerson

A lei de Gerson

 Vivemos em um tempo em que o “bem comum “é um termo desconhecido por grande parte da população brasileira, a “Lei de Gerson” impera, a frase do cérebro da seleção campeã em 70, “Gosto de levar vantagem em tudo, certo? Exibida no comercial do cigarro Vila Rica em 76, resume o caráter nacional de priorizar o bem individual ou de um grupo, sem se importar com questões éticas e morais.

O senador Edson Lobão, parece desconhecer o significado da palavra ética e bem comum, investigado na operação Lava Jato e presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, disse que a casa analisa a proposta de lei que anistia ao caixa 2, para o senador não há inconstitucionalidade na proposta, também defendeu mudanças na legislação que trata das delações premiadas, segundo ele a delação “só poderia ser admitida com o delator solto”, imaginem que trairagem, seria gratuita, e não em troca de redução de pena do acusado, incriminando sendo incriminado junto, será que alguém ia dar esse tiro no pé? Sobre a Lava Jato Lobão acha que “virou um inquérito universal” e que estão “Criminalizando a vida pública, e nos levando a tirania” Perguntado se o que for registrado como doação deve ser interpretado como corrupção, Lobão disse que se há uma lei, o TSE aceitou, não pode se tornar ilegal.

A maioria das campanhas eleitorais no Brasil vem de recursos angariados em doações, muitas delas de grandes empresas, que doam na expectativa de uma troca de favores no governo eleito, pensamos que a lei nos ampara, que vivemos em uma democracia, mas acabamos escolhendo a melhor campanha, ou seja, a de mais recursos, em troca de mais promessas aos doadores, todo esse processo, é um circulo vicioso, onde povo não se vê representado, mas acha que está, pois só se elege que tem a melhor campanha, só tem a melhor campanha quem tem mais doações, só tem mais doações quem faz mais promessas aos doadores, e nunca acaba, tudo isso, segundo o senador Edson lobão é amparado pela lei.



Mas leis e ética andam de mãos dadas? Vamos pegar alguns exemplos de leis e ética na nossa história.

Alemanha, 20 de Janeiro de 1942, secretários da justiça e das relações exteriores, junto com outros líderes do governo, encontraram-se em uma casa de campo em uma área nobre de Berlin chamada Wannssee, para discutir a “Solução final para a questão dos judeus na Europa”, Liderados pelo líder da SS Heinrich Himmler, o que ficou conhecida por “Conferência de Wannsee” tratou de discutir os melhores métodos de assassinato, eliminação e extermínio das populações judaicas e outras minorias, como ciganos ou homosexuais, aprovando uma decisão nunca antes vista em um estado moderno,isto tudo se deu com o consentimento popular, pois a população alemã da época, foi levada a um senso comum de que a mítica raça ariana, baseada na teoria do Darwinismo Social, estaria mais adaptada a mudanças ambientais e portanto seria “superior” as demais na busca pelo alimento, a questão ética, foi esquecida, a humanidade foi esquecida, mas professor? Isso foi na Alemanha, e estamos no Brasil, bom...

Pegaremos um exemplo nacional, a “Lei Eusébio de Queiróz”, de 1850 que modificou a legislação escravista brasileira, proibindo o tráfico de escravos da África para o Brasil, exigência feita pela Inglaterra, numa tentativa de reter, com vínculos de trabalho, os libertos nas terras, evitando assim sua dispersão e conseqüentemente o acesso a pequena propriedade, visando priorizar o sistema de latifúndio com mão de obra barata e dependente, a expressão popular “Pra Inglês Ver” surgiu pela lei Eusébio de Queiroz, criada, muito provavelmente pelo povo, pois atendia exigências inglesas, mas com pouco efeito prático na sociedade da época.

A nossa carta magna, a constituição de 1998 tem 84 emendas, mas em comparação, a constituição Norte Americana que foi promulgada em 1787 tem apenas 27 emendas, fato que explica a falta de ética em nossa sociedade, que tem de se defender por detrás de um numero exagerado leis (muitas delas anti éticas), quando nos bastava ter o hábito de prezar o bem comum sobre o bem individual. “Pobre Gerson”.


Emerson Machado

Professor especialista em ensino de História


 


 

segunda-feira, 21 de março de 2022

JUVENTUDE REACIONÁRIA

 Na última semana vimos a intolerância juvenil dos bostinhas do MBL assombrar a arte,

quando a exposição Qeermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, que

estava em cartaz a há quase um mês no Santander Cultural, ser cancelada após uma

chuva de protestos nas redes sociais patrocinadas pelo Movimento Brasil Livre (MBL),

que pregava a ameaças de encerramento das contas pelos correntistas, caso a

exposição não fosse cancelada, o próprio prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan

Jr. (PSDB), apoiou o cancelamento alegando que exibiam imagens que seriam

impróprias, pois segundo ele e o MBL traziam imagens que faziam apologia a zoofilia,

pedofilia e blasfemavam símbolos religiosos.

A mostra trazia obras de artistas como Volpi e Portinari e já tinha sido exposta em

Londres, Nova York e Barcelona, e têm como o objetivo a discussão sobre a temática

LGTB, questões de gênero e diversidade sexual, temas que para a juventude

reacionária não podem ser discutidos, pois consideram tabu, ponto para os Porto

Alegrenses que no seu ufanismo caricato, se acham o melhor, mais culto e mais

educado povo do Brasil, quase uma capital Européia nos confins da América latina, só

que não.


A arte na sua vanguarda, sempre chocou a sociedade brasileira, sociedade essa sempre

movida pelo patriarcalismo, moralismo de cuecas e dogmas religiosos.

“Condenados a modernidade” essa era a palavra de ordem em Fevereiro de 1922

quando o teatro municipal de São Paulo foi ocupado por um grupo de jovens artistas e

intelectuais para uma série de recitais exposições e concertos radicalmente contrários

aos códigos visuais literários e musicais da época, em dia com as tendências européias,

eles estavam inventando a arte moderna Brasileira, a tradicional família paulistana,

ficou horrorizada com o cristo de trancinhas esculpido por Victor Brecheret e com o

Homem Amarelo pintado por Anita Malfati, quando Oswald de Andrade disse “Carlos

Gomes é horrível” a platéia da semana de arte moderna reagiu com vaias e insultos,

mas a cultura brasileira já estava voltada para o futuro, as artes nacionais passaram a

pertencer aos “Modernistas”.

O modernismo significou uma ruptura na arte tradicional e uma importante mudança

de atitude mental, estava comprometido com as mudanças de ordem social e políticas

que a nova concepção artística veio debater, a década de 1920, foi um período que

com a ajuda de modernistas como Oswald de Andrade que sugeriu uma saída

canibalesca para os impasses nacionais como o coronelismo, voto de cabresto e o

curral eleitoral que mantinham a política do café com leite de paulistas e mineiros,

ambos detentores do poder e dependentes da monocultura exportadora do café.

A partir da publicação do seu “Manifesto Antropofagista” Oswald, que gostava de

chamar o Brasil de “Pindorama”, dedicava-se discussão do que nós somos, tínhamos e

precisaríamos ter, e mesmo sem se definir ideologicamente o modernismo contribuiu,

mesmo que indiretamente, com os movimentos civis e militares que levaram o Brasil a

revolução de 1930, e talvez seja isso que nós precisamos na atualidade, uma

revolução, mas não com armas como a de 1930, mas sim, de consciência, de que

temas pontuais, abordados da Exposição Qeermuseu do Santander Cultural devem ser

expostos e debatidos com a sociedade e não varridos para baixo do tapete como

querem o MBL e o nosso jovem e reacionário prefeito da capital.

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

OLAVISMO, DISCURSO NA ONU E RASPUTIN


Depois de assistir a tragédia que foi o discurso do Bolsonaro na ONU terça passada dia 24 de Setembro, tiramos várias conclusões daquela enxurrada de delírios, bobagens e conspirações, a principal delas é que, ao que tudo indica, eles acreditam realmente no que defendem, ao contrário do que alguns pensam, de que era material só de uso exclusivo para a campanha de fakenews que alavancaram a vitoria da direita histérica, ou seja, eles realmente acreditam naquilo tudo.
Quando digo, “eles”, no plural, é porque há um feudo em volta da família Bolsonaro, numa verdadeira relação de vassalagem, susseranagem e servidão, digna da idade média, grupos distintos formam essa rede de trocas de privilégios, informações e capital, podemos dizer que tem ala miliciana liderada por Flavio Bolsonaro, que empregou a mãe do ex- capitão do BOPE e agora foragido da lei Adriano Magalhães da Nobrega, chefe da “banda podre” da polícia que comete assassinatos por encomenda, suspeito de ser parte do grupo que assassinou a vereadora Marielle Franco. Tem o grupo dos lambe botas, que quer intervenção militar, esses sim tem um grupo grande de seguidores de jovens a idosos, os jovens geralmente que nasceram depois do fim da ditadura e nem sabem direito o que foi, e os mais velhos que viveram na ditadura mas foram bunda moles demais para se posicionar contra.
Tem os liberais, que são liberais só na economia, mas conservadores nos costumes, essa ala liderada pelo Chicagoboy, Paulo Guedes, (também conhecido por posto Ipiranga), caras que são admiradores de Ronald Regan e Margaret Tatcher, querem aplicar conceitos neoliberais do início da década de 1980 e, em pleno século XXI, bom para ele que é banqueiro dono do BTG Pactual, quando o povo ta precisando de dinheiro onde procuram? Logicamente um banco, então se toma medidas de austeridade, corta-se o capital social para o capital privado lucrar.
E tem a banda do filósofo do fiofó, o astrólogo que se diz filósofo, Olavo de Carvalho, o cara que mora ilegalmente no estado Norte Americano da Virgínia e é contra a imigração ilegal, defensor do terraplanismo e de todo o tipo de conspirações contra a “sociedade judaico-cristã ocidental”, impõe um comportamento sectário a seus seguidores, tendo de entoar seu mantra sem questionar uma vírgula, o líder é incontestável, se você se opõe a qualquer coisa é expulso do grupo e execrado e é promovido um linchamento virtual nas redes sociais pelo secto obscurantista.


Esse último grupo é o maior e mais perigoso, pois faz amplo uso de ferramentas virtuais para promover e propagar mentiras, trapaças e até assassinatos, parece que o ideal do livro “O Principe”, de Maquiavel foi levado a risca.
Grigori Yefimovich Rasputim, nasceu em Petrogrado atual São Petersburgo na Rússia, em 1869, de família pobre, nem sequer chegou a ser alfabetizado, tinha fama de poder prever o futuro, o que lhe legava a fama de ter “poderes sobrenaturais”, quando o Kzar Nicolau II tomou conhecimento desses poderes, chamou-o para ajudar seu filho que sofria de hemofilia, após o sucesso do tratamento Rasputin foi chamado para o convívio com a família real, conquistando grande influência nas cortes, passando a viver uma vida de orgias e bebedeiras, o “Monge Louco”, como era chamado, passou a ter grande influência política, conquistando assim muitos inimigos, quando estoura a 1° Guerra Mundial, o serviço secreto Britânico recebe informações de que ele estaria pedindo ao Kzar para fazer um acordo de paz com a Alemanha, dizem que os britânicos teriam patrocinando assim seu assassinato em 1916, a própria família real que o acolhera foi brutalmente assassinada dois anos depois no desenrolar da revolução Russa.
E o que que tem a ver Olavo com Rasputim? Pho “tudo”, Olavo estudou só até a 8° série do primário, Rasputin era analfabeto, os dois são lideres messiânicos considerados loucos mas com grande influência nas cúpulas de poder (Rússia Kzarista e Brasil Bolsonarista).
O povo Russo que se sublevou na revolução de 1917, configura o mesmo descontentamento que o povo do Brasil de 2019 está exausto de bobagens de monarcas e de gurus loucos.



terça-feira, 17 de setembro de 2019

A cruzada obscurantista de Crivella e o tiro que saiu pela culatra.


A bienal do livro do Rio de Janeiro deste ano foi marcada pela tentativa frustrada do prefeito evangélico Marcelo Crivella de recolher dos stands a história em quadrinhos, “Vingadores a cruzada das crianças”, alegando que o beijo entre dois personagens do mesmo sexo seria material sexual e pornográfico e que deveria estar embalado em plástico preto lacrado com avisos do lado de fora e de que seria impróprio para menores, o estranho é que com a violência explícita nesse tipo de publicação ninguém se preocupa.
A bienal se recusou em acatar o pedido da prefeitura, até porque o pedido nem poderia ser atendido, visto que todos os exemplares da tal história em quadrinhos já haviam se esgotado dois dias antes da manifestação do prefeito. Mesmo assim a direção da bienal veio a público afirmando que “dá voz para todos os públicos, sem distinção, como uma democracia deve ser”, numa clara menção de que o prefeito, pretendia na realidade, impor censura de viés ideológico conservador.
 Seus conceitos religiosos não podem ser aplicados em um estado laico e com liberdades individuais no que diz respeito à liberdade sexual amparados no artigo 5° da nossa constituição federal.
O Brasil há anos vem se tornando gradualmente um estado teocrático, onde grande parte da população se rendeu ao discurso de pastores evangélicos na busca para a salvação da maioria dos problemas, de amorosos a financeiros, esse último é um problema passa bem longe dos pastores, pois a salvação nunca é de graça, se dizem cristãos, mas fazem uma proposital, má interpretação dos conceitos bíblicos, com a clara intenção de enriquecer, ás custas da fé alheia, desse ponto de vista, não estamos muito distantes de países como Egito e Arábia Saudita, teocracias patriarcais, em que mulheres são apedrejadas até a morte em casos de suspeita de adultério e existem leis que proíbem o homossexualismo (ainda considerado doença), castigando-os com prisão, castigos e até execuções.
O Brasil é o país que mais mata homossexuais do mundo, é claro que diferente de declaradas teocracias em que o estado se encarrega da execução, aqui na nossa república evangélico bananeira, os nossos líderes políticos, se eximem de sujar as mãos de sangue, passando toda a responsabilidade pelos homicídios de homossexuais para a turba enfurecida, para isto basta reproduzir discursos de ódio a gays que já vão empoderando todo o tipo de sádico homicida.
Todo mundo já está careca de saber que a Grécia é o berço da nossa civilização ocidental, o que as pessoas não sabem ou preferem não saber, é que os gregos eram gays, ou quase isso, a pederastia, termo que os gregos usavam para relações entre indivíduos do mesmo sexo, não tinha nenhuma conotação pejorativa, consistia numa relação amorosa e sexual entre dois homens de idades diferentes, em que o mais velho tinha como função ensinar o mais novo, o homem adulto na faixa dos 20 a 30 anos, era denominado “erástes” (o amante), e o jovem, entre 12 e 18 anos, era chamado “eromeno” (o amado), a pederastia segundo textos de Platão, estava ligada diretamente ao ideal de educação do jovem para o exercício de cidadania nas polis gregas como a de Atenas. A ideologia heteronormativa que se tem hoje em dia no ocidente foi construída por volta do século XIX, na antiguidade clássica grega era comum, homens e mulheres, ter parceiros sexuais de ambos os sexos, vide o herói da Ilíada de Homero, o semideus “Aquiles”, tinha várias parceiras sexuais, mas também tinha o priminho Pátroclo que era seu amante, o Próprio Alexandre o grande da Macedônia era casado com duas mulheres, Statira princesa da Pérsia e Roxana princesa da Bactria, mas tudo nos leva a crer que Heféstion, seu companheiro de infância e comandante de sua cavalaria seria seu amante, que Heféstion ligeiramente mais velho que Alexandre teria sido seu mentor sexual e ambos foram educados por Aristóteles em um mundo onde esse comportamento não só era visto como normal mas também era estimulado.

A intenção de censurar de Crivella deu mais holofote para a causa LGBT, levando a cena para as principais manchetes do país, talvez sem sua intervenção, nem saberíamos do ocorrido.
Obscena é a fome a guerra e a desigualdade, quem considera obsceno um simples desenho de um beijo entre duas pessoas, independente se é homo ou hetero, deveria rever seus conceitos, procurar um psiquiatra ou sair do armário de uma vez.   




quarta-feira, 11 de setembro de 2019

SOFISTAS X COACHING


Os Sofistas eram os caras que vendiam o conhecimento na Grécia antiga, consideravam-se supersábios, antes mesmo de haver escolas, então onde aprendiam? Pois é, o pouco que se sabe é que eram itinerantes, viajavam de cidade em cidade do mundo Grego e ensinavam de tudo, dês de fabricar sapatos até a ciência política, para quem estivesse disposto a pagar, é claro.
A pólis Grega de Atenas, berço da democracia, era o principal palco de atuação dos sofistas, a arte da retórica e da oratória eram virtudes necessárias para o bom desempenho na vida publica.
A retórica, principal arma dos Sofistas, está baseada na arte através da oratória, derrubar teses contrárias as suas e convencer as pessoas que a sua verdade é a verdade absoluta.
Os Sofistas eram os donos do campinho até que surge Sócrates com a sua dialética, o pai da Filosofia afirmava que, a opinião é uma expressão individual, já o conceito é universal, isto é, valido para todos. Nesse sentido, os sofistas ensinavam a retórica para convencer os outros que sua opinião é a melhor. Já Sócrates ensinava a dialética, ou seja, fazia de conta que não sabia nada para levar as pessoas admitirem a sua falta de conhecimento, e através de questionamentos, chegar a um conhecimento próprio.
Sócrates ensinava em espaços públicos, e não cobrava por suas aulas, pois para ele, o ensino não era uma mercadoria que podia ser comprado e afirmava que a verdade está no interior de cada indivíduo, conceito sintetizado na frase de Sócrates, “Conhece-te a ti mesmo e conhecerá os deuses e o universo”.
O fim de Sócrates foi trágico, foi acusado de “corromper a juventude Ateniense”, foi condenado a morte por envenenamento.
Ta e os Coachs? Como profissão o termo começou nos Estados Unidos quando as técnicas  do treinador esportivo, que é Coach em inglês, foi adaptado ao mundo dos negócios, quando eles se propuseram a dar palestras motivacionais, isso abriu uma espécie de caixa de Pandora, porque gente com profissões respeitadas se posicionaram como coachs, tipo professor de língua portuguesa se apresentando como “coach para concurseiro”, daí em diante é ladeira abaixo, uma horda de leigos tem se apresentado como especialistas em quase tudo, mas detalhe, sem a mínima formação acadêmica, desprezam o conhecimento a pesquisa acadêmica e os profissionais diplomados, tem coach pra tudo, depressão, emagrecimento, relacionamento e até para se tornar milionário reprogramando seu DNA, o charlatanismo é tamanho, que tem até Coach afirmando que os judeus nos campos de concentração na Alemanha Nazista simplesmente se entregavam, porque não tinham um “propósito maior”, e a figura do Coach reprogramaria suas mentes salvado-os do holocausto, ou seja, na visão deles, faltou um Coach para os judeus.

A crise econômica que o Brasil enfrenta na atualidade, é campo fértil para esse tipo de oportunismo, focam nos desempregados que devido à condição, estão mais vulneráveis e com auto-estima baixa, rotulando-os como pessoas com inabilidade emocional, ou em pessoas com dificuldades interpessoais, se em um relacionamento, por exemplo, você é traído, apontam a culpa como sendo sua, pois não tem o que chamam de “Inteligência emocional”, apresentando-se como a mão amiga disposta a ajudar, contanto que você pague o preço da ajuda.
Com vocabulário próprio, esse pessoal coloca uma roupa nova em conceitos conservadores, trabalhador passa a ser chamado de “colaborador”, com a clara intenção de fazer você esquecer que está trocando força de trabalho por capital, tornando-se um colaborador você passa a pensar que trabalha por um “bem maior”, que na realidade é o enriquecimento do patrão, ou usando a expressão “Resiliência”, criada para glamorizar o sofrimento individual em detrimento dos problemas sociais, costumam também utilizar palavras em inglês com intenção de trazer uma conotação intelectual, mesmo a palavra tendo o mesmo significado em português, com a clara intenção de monstrar que o Coach é um especialista no assunto, escancarando o caráter de sobreposicionamento da cultura norte americana sobre a nossa e o grau de subserviência em relação a ela, viralatismo puro.
Quase todo Coach tem um guru pseudointelectual, o cara que é sustentado pela rede de seguidores que reproduzem os seus conceitos, criando uma espécie de pirâmide, onde quanto maior a sua base de apoio maior a visibilidade e o capital acumulado, algo tipo relação de vassalagem e susseranagem do período feudal, só que adaptada ao século vinte e um.
Existe um projeto de lei tramitando no senado que criminaliza quem tem real propósito de enriquecimento a curto prazo com a exploração da boa-fé das pessoas por Coachs que não tem certificação legal nem diploma válido.

Já que não temos um Sócrates para contrapor os Neosofistas, a sociedade organizada deve impor a agrura da lei para coibir a pratica de falsas promessas e a proliferação de enganadores e charlatões.

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

MENDICÂNCIA, IRRESISTÍVEL ATRAÇÃO


Meu maior medo é virar mendigo, tenho muita admiração por quem opta por esse meio de vida, não tem moradia fixa, um dia debaixo de uma ponte, outro dia debaixo de um viaduto, não tem de bater ponto, não recebe ordens, é livre, a maioria está nesta condição por opção, experimente oferecer moradia fixa e emprego para ver a resposta. O filósofo iluminista Jean Jaques Rousseau já afirmava em seu livro “O Contrato Social” que “O homem nasce livre e por toda a parte encontra-se acorrentado”  mendigos romperam os grilhões que a sociedade do capital nos impõe, são livres.
Certo tempo, trabalhei em uma operadora de turismo em Porto Alegre em um suntuoso prédio de fachada ajardinada com elevador panorâmico e cascata artificial, tudo muito bonito, ficava na subida da Dom Pedro II, no elegante bairro de Higienópolis, o trabalho era terrível, a demanda era absurda a rotina de trabalho extremamente estafante, os proprietários supervisionavam o trabalho como um capataz ou feitor de escravos, da janela do quinto andar observava o mendigo do bairro tomando banho de sol, que inveja, analisando seu dia a dia pude constatar que ele tinha uma vida muito melhor que a minha, se vestia com roupas de grife que os moradores do bairro davam, comia marmita quentinha do restaurante Marquês que os garçons separavam para ele, (restaurante que eu ia só uma vez por mês), uma vez ia a pé para casa e achei na rua um par de pantufas velhas atirado na calçada, era o meu número, não tive dúvidas, peguei para usar, quando minha esposa chegou e me viu com aquelas pantufas, me perguntou de onde vieram, respondi que havia achado na rua, ela me deu uma baita chingada, me mandou comprar um par de pantufas no Bourbom e deixar de ser relaxado, concordei em comprar pantufas novas e tive uma idéia de para quem daria as achadas na rua, botei numa sacolinha e no dia seguinte passei de scooter no jardim do mendigo perto do trabalho, quando parei ele fez uma cara estranha, como quem dizia “o que que esse cara quer agora”, eu amarradão com o presente tirei o par de pantufas da sacola, e para minha surpresa o mendigo o desdenhou, fazendo um sinal de reprovação com a mão, atirei as pantufas no jardim e sai meio chateado pela reação do mendigo pelo presente, depois parei e refleti, talvez ele mesmo tenho jogado fora ao ganhar uma nova e eu estava querendo devolver as pantufas que ele descartou, ingenuidade minha, o mendigo que mora em bairro de gente rica vive melhor do que o trabalhador, o lixo dos ricos é o luxo dos pobres.

O mendigo mais celebre da nossa história, sem dúvidas foi Diógenes de Sinope (412 a. C. a 323 a.C.), filho de uma família nobre da Pólis Grega de Sinope, foi banido depois de descobrirem que seu pai falsificava moedas, foi para Atenas para viver nas ruas abrindo mão da propriedade privada convertendo a pobreza extrema em virtude, caminhava descalço e seminu, seus únicos pertences eram um manto, um alforje, um cajado e uma caneca, um dia vendo uma criança bebendo água com as mãos deu a caneca a ela, vivia em uma pipa, como o personagem Chaves, (talvez inspirado em Diógenes), defecava na frente de todo mundo provando que nenhuma atividade humana é tão vergonhosa para requerer privacidade, andava com uma lanterna acessa durante o dia procurando um homem honesto, costumava pedir esmolas para estátuas e ao ser questionado, respondia que já estava acostumado com a rejeição, certa vez, foi aprisionado e feito escravo, perguntaram o que saiba fazer, respondeu “MANDAR”, certa vez Alexandre o Grande da Macedônia ouvindo falar de Diógenes, decidiu ir  a Atenas para conhecê-lo, ao encontrá-lo deitado no chão tomando banho de sol, Alexandre disse “Diga-me o que queres e será teu”, Diógenes responde “Não me ofereça o que não podes me dar”, Alexandre ao postar-se de pé em frente a Diógenes o fez sobra, visto que Alexandre não entendera o que Diógenes havia dito, completou, “ Saia de onde estás, pois me tapas o sol”, Alexandre perplexo lhe deu as costas e admitindo que apesar de ser “dono do mundo” daquele tempo, não podia lhe dar o sol, seus generais, lhe perguntaram, “Não vis castigar o mendigo insolente”? Alexandre respondeu, não, muito pelo contrário, “Se não fosse Alexandre da Macedônia, gostaria de ser Diógenes de Sinope”.